Como trazer um animal para Cambridge?

Sabemos que mudar já é complicado, e que mudar com um pet adiciona algumas preocupações e demandas no processo. O André, da CUBS, que já passou pelo processo, fez um texto detalhado relatando como foi o processo dele de trazer o Tim de Curitiba (PR) até Cambridge. Esperamos que esse texto facilite o processo de mudança dos futuros pais e mães de pet de Cambridge!

Autor: André Zanella

Nós mudamos com o Tim em Mar/21, voando originalmente de Curitiba para Madrid para iniciar meu doutorado. Minha carta de aceite veio em Ago/20 e logo iniciei os processo de documentação para ele sair do Brasil, num processo que sabia que demoraria ao menos 4 meses. O motivo para saber que seriam ao menos 4 meses (antes de detalhar o processo) e por causa da Sorologia Anti Rábica, que é o teste mais demorado (e caro) dos que precisam ser feitos, já que a coleta precisa ser feita 30 dias após a vacinação contra raiva e no mínimo 90 dias antes da emissão do certificado de viagem. Então num processo perfeito, você precisará de exatamente 120 dias para poder sair do Brasil para a Europa com seu cachorro. No meu caso, o Tim estava pronto para viajar em meados de Dez/20. Nós ficamos 1 ano na Espanha antes de mudarmos para a França para o primeiro estágio do meu doutorado, para então em Dez/22 mudamos da França para o UK para meu estágio na Universidade de Cambridge.  

Para a Espanha voamos de Latam direto para Barajas, com o Tim no compartimento de carga por pesar mais que o limite para ficar na cabine. Para o UK, viajamos de táxi de Paris para Cambridge, cruzando o canal da Mancha com o Euro Shuttle. Pode soar contra intuitivo (e um gasto extra de dinheiro), mas o UK tem regras bem mais chatas para entradas de animais do que a UE. Mais pra frente eu detalho tudo e dou minha recomendação de trajeto Brasil – UK.  

Detalhes do processo de documentação:  

Mas agora detalhando um pouco do processo, que segue os manuais do Ministério da Agricultura [1], que detalha em manuais separados os caros para a União Europeia [2] e Reino Unido [3]. O UK também detalha o processo [4], mas e tudo em acordo mútuo com o texto do Ministério da Agricultura do Brasil. Como falei, meu caso original foi do Brasil para a União Europeia; o UK tem regras quase iguais com alguns detalhes adicionais, que comento mais pra frente.   

  1. Microchipagem: o identificador único do seu animal, ele é obrigatório fora do Brasil e o primeiro passo a ser tomado para começar o processo de saída (caso seu animal ainda não o tenha). Tem que ser padrão ISO 11784 e ISO 11785 e deve estar datado, assinado e carimbado por um médico veterinário. Quando você for num veterinário, mencione que o chip e para saída do país que ele saiba o modelo correto (já que nem todo microchip aplicado no Brasil atende essas normas).  
  1. Vacinação anti rábica: por mais que seu animal esteja com ela em dia, o seu animal precisará de uma nova aplicação da vacina após a data da microchipagem.  
  1. Coleta da amostra para a sorologia anti rábica: Seu veterinário recomendou o local correto para realizar a coleta. O local responsável pela coleta então enviará a amostra para um laboratório autorizado pela UE para realizar os testes. No Brasil existem quatro laboratórios autorizados, mas o nosso local de coleta preferiu enviar a amostra para a Alemanha. O resultado saiu relativamente rápido (40 dias), porém é obrigatório esperar 90 dias para poder emitir o CVI.  
  1. Emissão do CVI: o Certificado de Vacinação Internacional (CVI) é feito apenas pela Vigiagro (normalmente com escritório nos aeroportos); é um documento que confirma que seu animal pode sair do Brasil. A recomendação deles é agendar com antecedência essa visita, porém um detalhe importante: o CVI é válido por apenas 10 dias (entre data de emissão e entrada no país). Então, por mais que os resultados da sorologia estejam em mãos e os 90 dias de espera tenham passado, apenas marque o CVI quando já tiver sua data de viagem.  

Alguns outros documentos necessários:  

  • Atestado de Saúde seguindo o modelo AS-1 Geral: pode pedir para o veterinário que está fazendo o acompanhamento, e apenas um documento que atesta que seu animal está saudável para viagem.  
  • Exclusivo do UK – Tratamento antiparasitário: contra o Echinococcus multilocularis, tem que ser administrado por um veterinário pelo menos 24h antes da data de entrada dos animais no UK, e não mais que 120h antes da hora de entrada; precisa também estar registrado na carteira de vacinação. Eu recomendo ir 2 dias antes da viagem e novamente, seu veterinário deverá saber que esse tratamento e para a entrada no UK e poderá administrar o tipo de dosagem que seguem as normas.  

Preparativos para a viagem:  

Considerando que a documentação esteja pronta, você pode começar a preparar os itens para seu animal viajar. Cada companhia aérea tem regras específicas de limite de peso e dimensões do animal e caixa de transporte para poder viajar na cabine. Normalmente esse limite é bem baixo, então apenas cachorros bem, bem pequenos podem viajar com você na parte de cima. O Tim e pequeno mas tinha 10kg, junto da caixa dele passou do limite e teve que ir para o compartimento de carga. Um detalhe: animais braquicefálicos costumam ser barrados pelas cias aéreas de viajarem na carga, pois correm risco de vida durante o trajeto.  

A ideia do compartimento de carga pode parecer assustador, mas ele é pressurizado e climatizado, então seu animal estará confortável lá. Existem várias regras sobre o tipo de caixa e o que poderá estar dentro dela. No nosso caso, o Tim viajou numa bem maior do que ele, para garantir mobilidade total do animal (existe uma regra nas empresas aéreas que ele tem que ser capaz de dar uma volta completa sem obstáculos) . Nós tínhamos colocado um brinquedo dele e uma manta, porém pediram para retirar e que a única coisa que poderia estar na caixa era o recipiente de água (que é daqueles de bolinha, preso na porta). Quando voamos de Espanha para a França deixaram o Tim viajar com a manta, então novamente, sempre fale com a empresa aérea para seguir as normas deles. Lembre também que o voo dura mais de 10h, então seu cachorro precisa ter feito todas as necessidades antes de sair e idealmente ter feito a última refeição algumas horas antes (para evitar que ele tenha que fazer suas necessidades na caixinha e fazer uma sujeira – o Tim fez coco no voo Madrid – Paris e foi uma tristeza limpar).  

Sobre remédios: meu veterinário foi contra qualquer tipo de remédio que pode fazer o cachorro dormir, ou até mesmo de ansiedade. Isso pois ele achava perigoso demais o efeito acabar durante o voo e ele ter uma crise maior, ou pior, ter alguma reação adversa durante o voo. Lembre que são 10h+ em que ele estará isolado de todos, então é realmente melhor evitar dar qualquer tipo de remédio para ele. Treine antes com a caixinha, faça ele se sentir confortável nela, que já ajuda demais.  

No fim, eu recomendo muito ir direto no guichê da cia aérea no aeroporto em que você for começar sua viagem e confirmar tudo com eles. Eu levei a caixa de transporte e todos os documentos do Tim dias antes de sairmos para confirmar que tudo estava de acordo com as normas. Tanto quanto você, eles querem garantir que seu animal esteja viajando da maneira mais segura possível.  

Entrada de animais no UK: 

Deixei por último a parte mais chata: a menos que seu animal seja um cachorro de serviço ou um animal de suporte emocional (com registro aceito pelo UK), ele terá que viajar num avião de carga (daqueles apenas com tripulação, sem passageiros). Sim, o UK no geral não permite que animais domésticos viagem em aviões de passageiro (seja na cabine, seja no compartimento de carga). Na época que nos mudamos da França para o UK, eu procurei tanto pela British Airways [5] e liguei na AirFrance e me confirmaram isso. Mais detalhes sobre as rotas aqui [6] 

O Tim é um cachorro bem traumatizado com humanos, ele aguenta viajar de avião mas o processo de voo de carga é bem mais difícil e envolve deixar ele para trás com despachante. Alguns cachorros aceitam isso com maior facilidade, mas não era o nosso caso. O trem de passageiros da Eurostar não aceita animais, por isso preferimos entrar no UK de carro. Nesse caso, ele poderia ou entrar via Ferry (que é mais demorado e pouco mais barato, e tem opções via Espanha, França e Países Baixos) ou pelo trem de carros da Euro Shuttle (pouco mais caro porém bem mais rápido e confortável). Nós optamos pelo Euro Shuttle. Você também pode alugar um carro ou pagar por um serviço de táxi específico para animais. Eu usei o Folkestone Táxis [7], não foi barato mas foi bem calmo e simples: eles nos pegaram no nosso hotel em Paris e deixaram direto no hotel em Cambridge.  

Minha conclusão sobre qual meio de transporte escolher: se o seu animal for tranquilo com outras pessoas a nao tiver ansiedade de separação, use os serviços de transporte aéreos que a British Airways (e algumas empresas de consultoria) oferecem. Se não for o seu caso, não tenha medo de pegar um voo para Paris, e de lá entrar no UK de carro. Para animais traumatizados, é o processo menos estressante e muito utilizado por pessoas dos EUA e Canadá que emigram para o UK (foi a partir dessa galera que eu descobri a opção).  

Referências  

[1] https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/vigilancia-agropecuaria/animais-estimacao/sair-do-brasil 

[2] https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/vigilancia-agropecuaria/animais-estimacao/sair-do-brasil/requisitos-em-pdf-publicados/uniao-europeia-site-mapa-jul-22.pdf 

[3] https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/vigilancia-agropecuaria/animais-estimacao/sair-do-brasil/requisitos-em-pdf-publicados/reino-unido-abr-21.pdf 

[4] https://www.gov.uk/bring-pet-to-great-britain 

[5] https://www.britishairways.com/en-gb/information/travel-assistance/travelling-with-pets 

[6] https://www.gov.uk/government/publications/pet-travel-approved-air-sea-rail-and-charter-routes-for-the-movement-of-pets 

[7] https://folkestonetaxi.com/Pet+travel+abroad.html 

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